O corpo em movimento como caminho para o aprender.
No Jardim de Infância, o corpo em movimento é expressão de descoberta e alegria. Cada salto, gesto e brincadeira desperta coordenação, presença e confiança, os primeiros passos do aprender
Nas escolas Waldorf, o movimento não é apenas uma forma de brincar — é parte essencial
do processo de aprender.
A criança aprende com o corpo inteiro. E quando esse corpo se move, salta, gira e equilibra,
o cérebro também se organiza, fortalecendo as bases neurológicas para a atenção, a
leitura, a escrita e o pensamento lógico.
Atividades como pular corda e andar de perna de pau, presentes no cotidiano da Escola
Waldorf Rudolf Steiner, são expressões vivas desse princípio. Elas integram o brincar, o
ritmo e a superação, ao mesmo tempo em que contribuem para o desenvolvimento físico,
cognitivo e emocional da criança.
O corpo que aprende: o olhar da neurociência
Estudos recentes em neurociência e psicomotricidade confirmam que o movimento rítmico e
coordenado ativa múltiplas áreas cerebrais, especialmente o cerebelo, o córtex motor e o
sistema vestibular, estruturas responsáveis pelo equilíbrio, pela coordenação e pela
integração sensorial.
Ao pular corda, por exemplo, a criança precisa ajustar o tempo, controlar a força e
sincronizar olhos, mãos e pés. Esse tipo de atividade estimula a comunicação entre os
hemisférios cerebrais, processo conhecido como integração inter-hemisférica, fundamental
para a consolidação de habilidades como leitura, escrita e raciocínio lógico.
Pesquisas de autores como Jean Le Boulch (1983) e André Lapierre (2005), pioneiros da
psicomotricidade, demonstram que o domínio do corpo e do movimento está diretamente
ligado à capacidade de concentração e ao desenvolvimento cognitivo.
Já andar de perna de pau exige postura, foco e autoconfiança. Cada passo é uma busca
pelo equilíbrio, e essa busca ativa reflexos e ajustes corporais finos, fortalecendo o sistema
vestibular (relacionado à noção de espaço e equilíbrio).
Estudos da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG), na área de desenvolvimento infantil, apontam que práticas que envolvem equilíbrio
dinâmico contribuem significativamente para a maturação neurológica e o controle postural
— fatores essenciais para a aprendizagem formal.

Ritmo, coragem e autoconfiança
Essas experiências também nutrem aspectos emocionais e sociais.
Para pular corda, a criança precisa de ritmo e persistência; para andar de perna de pau,
coragem e confiança.
Cada tentativa é uma pequena vitória, e é nesse movimento de errar, tentar de novo e
superar-se que nasce a autoconfiança.
A coragem física, quando experimentada no brincar, transforma-se mais tarde em coragem
interior, aquela que sustenta o pensamento livre e o agir consciente.
O brincar como base do aprender
Antes de a criança aprender a ler ou escrever, ela precisa desenvolver noções corporais
básicas: como o senso de ritmo, o equilíbrio e a lateralidade.
Essas competências não se constroem por explicações teóricas, mas por meio da vivência
corporal e do brincar ativo.
Quando a criança pula corda, está experimentando o tempo e o ritmo; quando equilibra-se
nas pernas de pau, está percebendo o espaço e a gravidade.
Esse diálogo entre corpo e ambiente cria as bases da atenção, da memória e do
pensamento ordenado.
Corpo, mente e alma em movimento
Na Escola Waldorf Rudolf Steiner, acreditamos que o aprendizado só é verdadeiro quando
envolve o ser humano em sua totalidade: corpo, mente e alma.
O movimento, na pedagogia Waldorf, não é um complemento, mas o próprio alicerce da
aprendizagem.
Cada salto, cada passo incerto e cada conquista fazem parte de um processo vivo: o de
tornar-se presente, consciente e confiante diante do mundo.
Quando a criança experimenta o equilíbrio nas pernas de pau ou o compasso da corda, ela
está, na verdade, construindo algo muito maior do que uma habilidade motora: está
aprendendo a se colocar no mundo com coragem, ritmo e alegria.

Referências consultadas
● Le Boulch, J. (1983). Educação Psicomotora e Reeducação do Movimento. Rio de
Janeiro: Vozes.
● Lapierre, A., & Aucouturier, B. (2005). Da Psicomotricidade à Educação
Psicomotora. Lisboa: Instituto Piaget.
● Fonseca, V. (2008). Psicomotricidade: Perspectivas Multidisciplinares. Porto Alegre:
Artes Médicas.
● Universidade de São Paulo (USP) – Laboratório de Estudos do Movimento Humano
(LEM/EEFE-USP). Pesquisas em desenvolvimento motor infantil.
● Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) – Departamento de Ciências do
Esporte. Estudos sobre equilíbrio e coordenação em crianças em idade escolar
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