Vivenciando as próprias origens no 4ºano ano escolar

Vivenciando as próprias origens no 4ºano ano escolar

Simone Puertas, professora de classe do 5°ano

 

A pedagogia Waldorf busca não apenas transmitir conhecimentos acadêmicos, mas também promover o desenvolvimento integral das crianças, conectando-as com seu próprio corpo e com o mundo ao seu redor através de vivências. Essa abordagem pedagógica, fundamentada nas ideias de Rudolf Steiner, reconhece a importância de trabalhos que resgatam as origens das crianças, especialmente por volta dos dez anos de idade, quando estão entrando em uma fase de maior percepção do mundo exterior e de si mesmas.

Após o Rubicão, período por volta dos nove anos de idade, em que a criança desperta para o fato de que não é uma com o mundo exterior, geralmente surge nos estudantes, uma curiosidade e um interesse particular a respeito da origem do universo, da terra onde vivem e de sua própria individualidade.

Assim, na época de História do 4º ano escolar, as crianças podem ouvir narrativas a respeito da origem de seu bairro, de uma personalidade importante cujo nome tenha sido doado a uma rua por onde costumam caminhar ou sobre a origem da própria escola e da comunidade que a fundou.

“Passarei para a História, contanto que não sejam só estórias, somente após haver sido alcançado o 12o ano de vida, aí a criança começa a ter participação interior nas grandes relações históricas. Isso será muito especialmente importante para o futuro, pois mais se evidenciará a necessidade de já educar os seres humanos para a compreensão das relações históricas, enquanto até agora, os seres humanos não chegaram de modo algum a uma compreensão propriamente dita.” Rudolf Steiner, na oitava conferência do curso Metódico Didático, em 1919.

No 4º ano da Escola Waldorf Rudolf Steiner, as crianças são apresentadas à Mitologia Nórdica (conteúdo que remete às origens da própria escola e da comunidade que a rodeia) e à Mitologia Indígena (conteúdo que remete a nossos povos originários no Brasil).

Nesse contexto, o trabalho com a cultura e mitologia indígenas no currículo do quarto ano escolar desempenha um papel significativo. Ao introduzir as crianças às narrativas, rituais, arte e sabedoria dos povos indígenas, a escola não apenas enriquece o repertório cultural dos estudantes, mas também os ajuda a desenvolver uma compreensão mais profunda e respeitosa da diversidade cultural do Brasil e do mundo.

Nas turmas do 4º ano de 2023, na Escola Waldorf Rudolf Steiner, as crianças foraam imersas em experiências que as conectaram com a cultura e mitologia indígenas de maneira bastante vívida: ao ouvirem o mito da criação Guarani; praticarem ritmos dessa cultura e cantarem com todo o seu ser, as crianças não apenas absorveram conhecimento, mas também internalizaram valores e sentimentos presentes nessas tradições. A prática de grafismos na pele e no tecido, bem como a produção de belas ilustrações inspiradas nas narrativas trabalhadas em sala de aula, permitiram que os estudantes expressassem sua compreensão e apreciação da cultura indígena de forma criativa e pessoal.

Além disso, a visita especial de Carolina Potiguara, representante do povo Pataxó, professora e disseminadora da cultura de seu povo na região sudeste do Brasil, onde vive há mais de quinze anos, trouxe uma oportunidade única para as crianças, suas famílias e o colegiado escolar vivenciarem de perto a riqueza e a diversidade da cultura indígena brasileira. Carolina compartilhou sua experiência e sabedoria, transmitindo conhecimentos específicos sobre sua cultura e valores de respeito, harmonia e conexão com a natureza e com as tradições ancestrais.

Por meio de rodas de dança, canto, contos e palestras, todos os envolvidos puderam experimentar um pouco da cultura indígena genuína e legítima, fortalecendo os laços com as origens e reconhecendo a sabedoria primordial que está presente em cada ser humano.

Além de trabalharmos os âmbitos cognitivo (por meio de narrativas da Época de História, como mencionado antes) e emotivo (pelo aspecto cultural e artístico), também já descritos, foi desenvolvido também, no 4o ano B de 2023, o aspecto volitivo, o potencial de ação. De forma bastante intensa, vivenciamos o ciclo da mandioca, desde o plantio ao preparo de alimentos primordiais e bem característicos de nosso país: a farinha de mandioca e a tapioca!

Desse modo, assim como no 3o ano escolar, as crianças vivenciaram o ciclo do trigo “do grão ao pão”, no 4o ano, com o auxílio das queridas professoras Mariana (Jardinagem) e Josielma (professora auxiliar de Ensino Fundamental), as crianças puderam vivenciar o ciclo “da mandioca à tapioca”. Foi extremamente enriquecedor: no espaço de nossa horta, as crianças plantaram as manivas de mandioca e as cultivaram por um ano.

Colheram, descascaram, ralaram e usamos panos de prato para espremer os pedaços ralados da mandioca, além das crianças terem sido apresentadas ao “tipiti” (utensílio indígena que funciona como espremedor). Do sumo que obtiveram desse trabalho, após descanso dentro de um pote em reserva, um pó branco se decantou no fundo. Desse pó, se faz a goma para a tapioca. Após hidratá-la e temperá-la com sal, as crianças prepararam suas próprias tapiocas na frigideira para um delicioso café da manhã!

Com a mandioca ralada e desidratada, após ter sido bem torcida e espremida para se extrair o sumo, as crianças realizaram um outro processo: o preparo de farinha. Essa mandioca ralada foi espalhada numa assadeira larga para tomar sol durante dois dias. Depois de ressecada e até com os flocos já crocantes, as crianças moeram e torraram sobre um fogo de chão. Após resfriada, peneiraram e embrulharam em pacotes plásticos para boa conserva. Cada criança levou seu pacotinho para casa com muito amor!

Assim, desde o mais puro interesse por desvendar as próprias origens, passando pelos sentimentos que emergem do canto e de toda a cultura ancestral potente e pulsante em nossas veias, até à realização do preparo de um alimento primordial em conjunto, compartilhando dúvidas, manejos, trocando impressões e agradecendo juntos por essa comunhão, as crianças tiveram a grande oportunidade de equilibrar forças sensórias, emotivas e de ação em momentos que serão sementes de gratidão, afeto e sensação de pertencimento.

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