Gabriela Hilarino, professora de Educação Física
Quando observamos as aulas de Educação Física nas escolas de pedagogia Waldorf, percebemos que algumas sutilezas as diferenciam das escolas tradicionais, principalmente nas aulas do ensino fundamental.
Por algum tempo a pergunta “O que ela tem de diferente?” ressoou em mim, me fazendo iniciar um caminho de estudos e pesquisas que buscam compreender o que ela tem de tão especial.
O primeiro ponto que compreendi foi que o planejamento deve ser sempre fundamentado no entendimento que Rudolf Steiner apresenta sobre o desenvolvimento humano. Esse processo, que cuida para que não haja um despertar precoce da criança, traz a importância de olhar para o aluno como um ser único, com muitas potencialidades e capaz de se transformar a todo momento.
Desta forma paciente e amorosa de ajudar as crianças no seu desenvolvimento, principalmente físico, podemos oferecer muitas possibilidades de atividades de movimento. No 3o ano, por exemplo, atividades em roda, com lindas histórias que substituem a explicação das brincadeiras, criando um ambiente de fantasia, são muito bem-vindas. Já no 4o ano, com a criança um pouco mais desperta, atividades que estimulem a coragem e a perseverança são como bálsamos para esta idade. No 5o ano, por sua vez, onde os alunos estão em maior harmonia corporal e mais despertos para o ambiente, atividades que estimulem o apreço pela beleza são os mais apropriados, assim como o início das atividades em equipe.
E nesse caminho, em que valores de cooperação e resiliência são colocados em prática diariamente, apresentamos no 6o ano a competição propriamente dita, a partir de jogos e brincadeiras, buscando de forma saudável o trabalho em grupo e priorizando sempre respeito uns pelos outro. Assim, ao chegarmos no 7o e 8o anos, os esportes são apresentados, junto às épocas de ginástica e atletismo. Outro ponto foi entender que o planejamento deve buscar o desenvolvimento integral dos alunos. Nesse sentido, não apenas o desenvolvimento das habilidades motoras deve ser importante. Oferecer jogos e brincadeiras em que os alunos tenham oportunidade de trabalhar e reconhecer suas emoções e sentimentos, ampliando cada vez mais a percepção do espaço, de si mesmos e dos outros, faz muito sentido nas aulas.
Nesse mundo em que o resultado está aliado à ascensão, onde o melhor é sempre o mais forte, o mais rápido e o mais esperto, despertar na criança o interesse pelo movimento e cuidar para que todos estejam incluídos, não apenas os mais habilidosos, é uma tarefa diária das aulas de Educação Física. Isso não quer dizer que preparar o corpo para estar pronto para executar os desafios não seja a maior tarefa. Muito pelo contrário! O corpo é o instrumento desta disciplina e deve ser trabalhado a todo momento, mostrando aos alunos que ganhar só é verdadeiro quando pautado em valores de respeito, em que ajudar os colegas e colocar suas habilidades à disposição do grupo é sempre o mais importante.
Afinal, a semente plantada nas aulas nem sempre terá sua colheita imediata e, às vezes, a semeadura será feita após um longo tempo e durante toda a vida.
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